Mas antes havia enlouquecido.



Relembrando uma cronica antiga que eu lê a muito tempo atras. Talvez ela faça parte de um pouquinho de nós. 












"O meu amigo levou um tiro. Ficou paraplégico. Mas antes havia enlouquecido. 
Comprou as dores de um cara. Levou um tiro que entrou por entre as costelas, 
atravessou a coluna, feriu a medula. Foi aí que o meu amigo, o dançarino maior   de 
minha geração, agora se tornava paraplégico. 
Ficou muitos dias morre e não morre em uma UTI. Teve pneumonia, feridas 
profundas (escaras), infecções várias. 
Um primo dele, gente trabalhadora como toda a família, dizia quando me via:
 “Dessa o Zé não escapa.”
Mas ele escapou. Ganhou rodas. 
Após um longo período de recuperação com Fisioterapia, medicamentos para combater 
as infecções recorrentes, treinamento para o controle dos esfíncteres, começou a 
aparecer novamente nos lugares onde havia música alta. Dançava com a cabeça e os 
braços na cadeira. Tomava destilados. Sempre chegava em sua casa completamente 
embriagado. Sua mãe é quem dizia e lamentava. Bebia para esquecer. Não raro, 
esquecia até o dia e horário da Fisioterapia. 
Queria ser jogador de basquete adaptado para cadeirantes. Não deu certo.
 Uma infecção encontrou caminho aberto em seu ser para lhe ceifar a vida, a qual ele 
já não mais tinha apego algum. "

2 comentários:

  1. Nunca tinha lido essa crônica, muito boa.
    Gostei desse novo papel de parede, muito melhor que o outro, amei.

    ResponderExcluir
  2. Muito obrigada...essa cronica é maravilhosa!

    ResponderExcluir